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21 de julho de 2011

Matando o amor


Helena estava acordada, olhando para o teto enquanto seu despertador não tocava, estava com medo de Carlos fazer alguma coisa com ela, estava com medo do que aconteceria com as crianças caso ela não estivesse presente, lembrou-se de sua tia e sabia que ela estava na cidade para ajudar caso alguma coisa acontecesse. O despertador tocou, ela levantou-se, foi até o banheiro para um rápido banho, preparou um forte café e duas mamadeiras para seus filhos mais novos. Retirou do varal seu uniforme e guardou em uma sacola, procurou sua bolsa e a colocou no ombro, estava linda e sabia disso ao se olhar no espelho - Camila, a mãe está indo trabalhar - a garota gemeu concordando e rolou entre as cobertas - eu fiz o mamá do João e da Bia, deixei na pia - outro gemido, Helena sorriu, beijou sua filha Camila e fez o mesmo com os outros três que também dormiam, Felipe, o segundo mais velho, seguido por João e Bianca, a mais nova. Alguém buzinou em frente a casa de Helena - fiquem com Deus - ela saiu, trancou a porta e guardou a chave em sua bolsa enquanto corria até sua carona - bom dia Maria, pronta pra mais um dia de batalha? - sua colega de trabalho sorriu e lhe entregou o capacete, ela o colocou na cabeça e subiu na moto.

Carlos não dormia há dois dias, estava decidido sobre seu discurso amoroso e tinha certeza de que não falharia - ela vai voltar pra mim, vai voltar pra mim - ele estava caminhando por uma estrada de terra, sabia que sua amada passaria por ali, ele havia conversado com alguns amigos que tinha na cidade e se informado sobre a rotina de Helena - vou esperar ela bem aqui - Carlos conseguia ver um bairro com poucas casas um pouco abaixo, a mãe e a irmã de Helena maravam naquele bairro, ele já havia as visitado em outras épocas. Um caminhão cruzou a estrada, arrancando Carlos de seus pensamentos - preciso me esconder - em ambos os lados da estrada via-se apenas mato e Carlos apressou-se em escolher um ótimo lugar para ficar enquanto esperava sua amada vir ao seu encontro.

Uma motocicleta estava passando pelo caminho, Carlos conseguiu ver entre os arbustos duas mulheres e uma se parecia muito com Helena, ele sentiu seu coração acelerar - é ela - ele atravessou a estrada e parou em frente a moto - é meu ex-marido, deixa eu falar com ele - Helena desceu da moto e foi até Carlos, ele estava agitado, não parecia muito bem - Carlos, eu preciso ir trabalhar. O que você quer?- ele colocou a mão na cintura e sacou uma arma - você, pode ir embora, ela vai ficar aqui comigo- a colega de Helena estava assustada, olhou para ela em busca de algum sinal que a pudesse dizer algo para ajudá-la - pode ir Maria - ela apressou-se em sair dali com a moto, Carlos esperou ela se afastar apontando a arma para ela - quero conversar com você Helena - a arma estava apontada para ela.

Maria seguiu em alta velocidade até chegar no posto onde trabalhava de cozinheira com Helena, entrou pela porta dos fundos como sempre fazia, estava agitada, com os olhos marejados e pálida - Maria, o que aconteceu? Parece que viu um fantasma - ela abriu a boca para dizer alguma coisa e só ouviu-se - Helena... O-Ele-Ah e-ele está com ela - e desmaiou.









Eu não tenho nada pra conversar com você, o que tinha para ser dito eu já disse - Carlos andou ao redor de Helena, guardou a arma na cintura, Helena prestou atenção em cada movimento, estava com medo, mas não iria demonstrar fraqueza - eu quero saber por que você me traiu? Por quê? Eu sempre fui um homem trabalhador, sempre dei tudo o que você queria, cuidei de nossos filhos da melhor maneira que pude e você me retribui com traição - Helena estava ficando nervosa, sabia que esse momento chegaria, o momento em que ele a fizesse essas perguntas. Como responder sem o deixar mais furioso? Ela não se importava, queria que tudo fosse pelos ares, estava cansada de dar explicação para tantas pessoas, sempre as mesmas explicações - Carlos, faz algum tempo que eu estava tentando te dizer que queria me separar de você, eu sei que você lembra disso, quando eu disse que queria me separar de você, para você ir embora, você não foi, você lembra disso? - Carlos fez que sim com a cabeça, estava querendo abraça-la, não importava o que ela fosse dizer, ele queria ficar junto dela para sempre - eu queria me divertir e você, sempre chato, nunca concordava com nada, nunca saia comigo para lugar nenhum, era de casa pro trabalho e do trabalho pra casa. CANSEI DESSA DROGA - o homem estava bagunçando seu cabelo, parecia um pouco mais irritado - você não quis ir embora depois de eu pedir tantas vezes, você não foi e teve o que mereceu. Encontrei aquele garoto que gostava de sair comigo, gostava de se divertir, ele me dava o que você não podia me dar - Carlos retirou novamente a arma da cintura, se aproximou de Helena e colocou em sua cabeça.

Eu quero que você VOLTE, quero que você volte comigo, vamos pra sua casa e seremos uma família novamente, eu, você e nossos quatro filhos - Helena estava decidida, não voltaria - Carlos, eu não vou voltar com você, todos já sabem disso, porque você não se conforma e vai viver sua vida sem mim, seus filhos te amam, você pode vê-los quando quiser - Carlos virou as costas para ela e começou a caminhar enquanto pensava nas coisas, pensava em seus filhos - A BIANCA, A BIANCA É MINHA FILHA? - Helena surpreendeu-se com o assunto, ela sabia a resposta a pergunta, mas não sabia que ele tinha dúvidas sobre isso depois de ter demonstrado tanto amor - SEU FILHO-DA-PUTA, COMO PODE ME FAZER UMA PERGUNTA DESSAS? - Carlos ajoelhou-se em frente a Helena, abraçando suas pernas - me desculpe, me desculpe, me perdoe Helena, e-eu só queria ouvir de você a verdade, todos me perguntavam se eu tinha certeza e e-eu tive que perguntar - Helena o afastou e começou a seguir o caminho para seu trabalho, decidiu que a conversa havia acabado - se você não tem mais nada para perguntar, eu vou trabalhar, tenho quatro filhos para alimentar, lembra? - ele estava com a arma apontada para ela - Helena, eu te amo. HELENA - ela parou e se virou - eu te amo Helena, vamos ser felizes, prometo esquecer tudo o que você me fez, quero ficar com você, quero te amar, quero ter nossa família de volta - a mulher estava paralisada, ela sentia a arma fria encostada em sua testa e fechou os olhos - eu não vou voltar com você, já me decidi - ele a fez se ajoelhar, ela o olhava com olhar de suplica, com lagrimas escorrendo pelos olhos - Helena, estou te dando a chance de ter uma vida feliz comigo.

Helena não conseguia pensar em muita coisa com uma arma encostada em sua testa, estava com raiva de seu ex-marido, queria sumir dali, queria que alguém aparecesse ali e acabasse com tudo, mas tinha que enfrentar aquilo tudo sozinha e estava disposta a manter sua decisão apesar de tudo - SEU IDIOTA, SERÁ QUE VOCÊ NÃO PERCEBE QUE EU NÃO TE AMO MAIS, JÁ PERDI O AMOR POR VOCÊ FAZ MUITO TEMPO, SUPERE ISSO IMBECIL - Carlos franziu as sobrancelhas enquanto olhava Helena nos olhos - olhe seu estado, está todo sujo, fedendo e não muda de roupa desde que se mudou pra cá. E pra quê? Pra ficar perto dos filhos? Nãaao. Pra ficar me vigiando achando que eu não sei de nada, achando que não sei de seus amigos babacas - ele parecia surpreso - TE TRAI E NÃO ME ARREPENDO. QUER ME MATAR? ME MATE LOGO ENTÃO. PELO MENOS EU NÃO VOU PRECISAR FICAR COM VOCÊ - ele preparou a arma, estava furioso e já havia se afastado alguns passos de Helena - SEU COVARDE. IMUNDO. CORNO - Carlos fechou os olhos e apertou o gatilho, acertando o canto do olho direito da mulher que caiu no chão enquanto ele corria chorando.


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