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8 de junho de 2011

A idosa no ônibus

Martin aguardava pelo transporte público por exatamente trinta minutos, estava aflito, sempre olhando as horas em seu relógio, queria chegar em casa o quanto antes e o ônibus não estava colaborando para isso. O garoto entendi que os motoristas tinham seus horários a cumprir e tentava não se queixar quanto seu atraso, muitas pessoas queriam ir para suas casas, ele era só mais um.

O ônibus estacionou depois de muitas pessoas acenarem a mão para o motorista, a fila de quase quinze pessoas foi subindo as escadas, passando seus cartões e girando na roleta, Martin fez o mesmo e logo estava caminhando para o fundo do veiculo, seria um longo caminho e pelo visto ele teria que ir de pé. Alguns minutos depois, um homem que estava próximo a ele desceu "um LUGAR", pensou, olhou para as pessoas próximas ao banco, ninguém mostrou-se interessado "é meu", ele sentou-se, colocou sua mochila sobre suas pernas e encostou sua cabeça na janela, estava com um leve sono, as luzes dos carros na outra pista iluminavam seu rosto e sentindo apenas o balanço do ônibus ele adormeceu.

- Garoto, acorde - uma senhora lhe batia no ombro - vamos garoto acorde, você não está na sua casa para ficar dormindo, levante deste lugar, vamos, não tenho o dia todo - Martin abriu os olhos, sentia uma leve dor de cabeça e depois de olhar pela janela, viu que ainda não chegou o momento de descer. Ele esfregou o rosto, estava um pouco irritado pela voz da senhora, ele a conhecia, todos os dias no mesmo horário, ela tomava este mesmo ônibus e fazia as pessoas se levantaram para ela poder se sentar, Martin não queria se levantar:
- Está precisando de alguma coisa, senhora?
- Preciso desse lugar onde você está sentado - Ruth estava usando batom vermelho, colares, pulseiras e um vestido colorido, parecia estar vindo de um baile.
- Eu não vou me levantar para a senhora se sentar, me desculpa, mas eu não vou.
- A lei diz que o idoso tem direito de se sentar, ausente idosos, gestantes, obesos e deficientes, vocês podem se sentar. Sou a única idosa que está de pé - ela estava gritando com o dedo levantado.
- Eu sei sobre essa lei minha senhora.
- Então saia logo dai moleque, ande, saia - os passageiros olhavam para Martin, ele estava nervoso.
- EU NÃO VOU ME LEVANTAR DAQUI
- Você é um moleque folgado, estava sentando estudando a tarde toda e agora não quer levantar para dar lugar para uma idosa que quer ir pra casa, os jovens de hoje são todos assim, são mal criados pelos pais e o mundo é quem paga o pato, hoje quem paga sou eu, vou ter que ir para casa de pé, não posso me sentar porque um garoto mimado não quer se levantar para me dar o lugar e pelo visto ninguém mais nesse ônibus vai se levantar para uma senhora, como eu, se sentar, é isso mesmo Ruth, vamos de pé e deixem eles sentadinhos em seus lugares... Você é um garoto ruim, sua mãe não lhe deu palmadas quando era preciso e hoje você ficou assim, chato, ignorante e todo poderoso. Não aceito ir de pé, levante-se garoto, A LEI...
- A LEI, A LEI... A lei está sendo cumprida, a senhora que não está vendo isto.
- Não me venha com brincadeiras, seu moleque...
- Eu estou lhe tratando muito bem, mas se a senhora insistir em me chamar de moleque tudo bem... Não vou me levantar daqui e sabe porque? Por que A LEI que a senhora tanto fala está sendo cumprida, a senhora consegue ver aqueles bancos ali na frente marcados com uma faixa amarela? Bancos desse tipo são para pessoas como a senhora, vamos supor que tenhamos 10 bancos deste tipo neste ônibus - Martin estava de pé, não percebeu, mas estava discursando enquanto se segurava nas barras, passando pelas pessoas - só supor que estes 10 bancos estejam espalhados pelo ônibus, vamos contar - ele começou a apontar para as pessoas idosas sentadas - Um, Dois, Três, Quatro, Cinco, Seis, Sete, Oito, NoveDezOnzeDoze, acho que não preciso contar todos, não é? - as pessoas cochichavam, pareciam concordar com o garoto.

"Preste atenção minha senhora, garanto que aqui todos estávamos trabalhando e no meu caso, eu estava de pé, a manhã toda, sou garçom, se quer saber, fico de pé a manhã e a tarde toda para poder ir pra casa, jantar e ir estudar a noite, mas não importa o que eu faço, todos aqui estávamos trabalhando, se alguém aqui não estava trabalhando, por favor se manifeste, preciso fazer essa senhora enxergar meu cálculo - Ruth parecia prestar atenção, não tirava os olhos do garoto e estava sentada em seu lugar - vocês, eu conheço você do curso de inglês, estava estudando não estavam? - os três garotos concordaram - viu só, o resto estava TRA-BA-LHAN-DO, entendeu? Eu garanto, me interrompa se eu estiver dizendo alguma mentira agora, garanto que a senhora estava no "Clube de Dança para Idosos" que tem lá perto do ponto de onde a senhora subiu, não estava? Não precisa responder, eu sei que estava e suas roupas coloridas não negam... Não sei o motivo da senhora ser rabugenta deste modo, mas por favor, quando a senhora entrar no ônibus na próxima vez, tente ver essa matemática, tente não ser chata, as pessoas são educadas, alguém vai levantar e lhe dar o lugar sem a senhora ficar gritando... A senhora consegue entender meu ponto de vista?"

Ruth estava se levantando do lugar onde estava:
- Tudo bem, você venceu, sente-se, você deve estar cansado do trabalho - o ônibus parou, Martin sorriu feliz por tê-la convencido com seu "discurso".
- Pode ficar, vou descer agora.

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